terça-feira, 6 de setembro de 2011

GRITO DOS EXCLUÍDOS, AMAZÔNIA, BELO MONTE ( 2011 )

OS EXCLUÍDOS SÃO OS MESMOS... E OS/AS QUE EXCLUEM POSAM MUITAS VEZES DE "BONS" NOS SEUS GABINETES, "REPRESENTANDO E DECIDINDO" OS RUMOS DESTE PAÍS DESIGUAL.
 
QUAIS FORAM AS MEDIDAS TOMADAS, AS SOLUÇÕES APRESENTADAS PELOS GOVERNANTES DO ESTADO NACIONAL, QUE IMPLICA EM MUDANÇAS CONCRETAS DE NOSSA ATUAL REALIDADE?
 
HOJE SÃO MUITOS GRITOS OUVIDOS EM TODOS OS CANTOS DESTE PAÍS, EM PARTICULAR: DOS MILITANTES PERSEGUIDOS, AMEAÇADOS PELO SISTEMA ECONÔMICO DO GRANDE CAPITAL (entre Mineradoras, Construtoras, Madeireiras...), QUE NÃO SOMENTE EXPLORAM AS RIQUEZAS DESTE NOSSO SOLO PARA EXPORTAR, PARA ENRIQUECER E SUSTENTAR A MINORIA DETENDORA DO PODER NO MUNDO - ENQUANTO FINANCIAM CADA DIA MAIS A POBREZA, A MISÉRIA, AS DESIGUALDADES - SUSCITANDO PELA VIOLÊNCIA, PELAS GUERRAS, PELOS TRÁFICOS...
 
 
DE NORTE A SUL DESTE NOSSO PAÍS, OS EXCLUÍDOS GRITAM... MUITOS DELES SÃO GRITOS SILENCIOSOS, MAS QUE SÃO OUVIDOS POR TODOS OS QUE SENTEM O CORAÇÃO, A ALMA ARDER PELAS INJUSTIÇAS SOFRIDAS POR TANTOS CIDADÃOS EXPLORADOS, OPRIMIDOS... QUE SÃO LANÇADOS AO DESCASO, AO CALABOUÇO, ÀS SENZALAS MODERNAS (quando existem espaços), ÀS RUAS DAS NOSSAS CIDADES, À FOME.
 
ABAIXO, DEIXO DUAS IMPORTANTES REFLEXÕES SOBRE ESTES PROCESSOS TODOS, QUE ENVOLVEM A GRANDE QUESTÃO DOS "EXCLUÍDOS PELO SISTEMA", E UMA NOTA QUE SUSCITA UM PROFUNDO DEBATE SOBRE A EMERGÊNCIA DA LUTA E MOBILIZAÇÃO ATUAL: XINGÚ - BELO MONTE
 
 

por Frei Betto


Grito dos Excluídos 2011

 


 
 
 
 
 
 
 
O lema do 17º Grito é "Pela vida grita a Terra... Por direitos, todos nós!" Trata-se de associar a preservação ambiental do planeta aos direitos do povo brasileiro.
O salário mínimo atual - R$ 545,00 - possui, hoje, metade do valor de compra de quando foi criado, em 1940. Para equipará-los, precisaria valer R$ 1.202,80. Segundo o DIEESE, para atender as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas, conforme prescreve o art. 7 da Constituição, o atual salário mínimo deveria ser de R$ 2.149,76.
As políticas sociais do governo são, sem dúvida, importantes. Mas não suficientes para erradicar a miséria. Isso só se consegue promovendo distribuição de renda através de salários justos, e não mantendo milhões de famílias na dependência de recursos do poder público.
O Brasil começa a ser atingido pela crise financeira internacional. Com a recessão nos países ricos, nossas exportações tendem a diminuir. O único modo de evitar que o Brasil também caia na recessão é aquecendo o consumo interno - o que significa aumento de salários e de crédito, e redução dos juros.
A população extremamente pobre do Brasil é estimada em 16 milhões de pessoas. Dessas, 59% (9,6 milhões de pessoas) estão concentradas no Nordeste.
Dos que padecem pobreza extrema no Brasil, 51% têm menos de 19 anos e, 40%, menos de 14. O desafio é livrar essas crianças e jovens da carência em que vivem, propiciando-lhes educação e profissionalização de qualidade.
Um dos fatores que impedem nosso governo de destinar mais investimentos aos programas sociais e à educação e saúde é a dívida pública. Hoje, a dívida federal, interna e externa, ultrapassa R$ 2 trilhões. Em 2010, o governo gastou, com juros e amortizações dessa dívida, 44,93% do orçamento geral da União.
Quem lucra e quem perde com as dívidas do governo? O Grito dos Excluídos propõe, há anos, uma auditoria das dívidas interna e externa. Ninguém ignora que boa parcela da dívida é fruto da mera especulação financeira. Como aqui os juros são mais altos, os especuladores estrangeiros canalizam seus dólares para o Brasil, a fim de obter maior rendimento.
Há um aspecto da realidade brasileira que atende à dupla dimensão do lema do Grito deste ano: preservação ambiental e direitos sociais. Trata-se da reforma agrária. Só ela poderá erradicar a miséria no campo e paralisar o progressivo desmatamento da Amazônia e de nossas florestas pela ambição desenfreada do latifúndio e do agronegócio.
Dados do governo indicam que, no Brasil, existem, hoje, 62,2 mil propriedades rurais improdutivas, abrangendo área de 228,5 milhões de ha (hectares). Mera terra de negócio e, portanto, segundo a Constituição, passível de desapropriação.
Comparados esses dados de 2010 aos de 2003, verifica-se que houve aumento de 18,7% no número de imóveis rurais ociosos, e a área se ampliou em 70,8%.
Se o maior crescimento de áreas improdutivas ocorreu na Amazônia, palco de violentos conflitos rurais e trabalho escravo, surpreende o incremento constatado no Sul do país. Em 2003, havia nesta região 5.413 imóveis classificados como improdutivos. Ano passado, o número passou para 7.139 imóveis - aumento de 32%. São 5,3 milhões de ha improdutivos em latifúndios do Sul do Brasil!
De 130,5 mil grandes propriedades rurais cadastradas em 2010, com área de 318,9 milhões de ha, 23,4 mil, com área de 66,3 milhões de ha, são propriedades irregulares - terras griladas ou devolutas (pertences ao governo), em geral ocupadas por latifúndios.
O Brasil tem, sim, margem para uma ampla reforma agrária, sem prejuízo dos produtores rurais e do agronegócio. Com ela, todos haverão de ganhar - o governo, por recolher mais impostos; a população, por ver reduzida a miséria no campo; os produtores, por multiplicarem suas safras e rebanhos, e venderem mais aos mercados interno e externo.
[ Frei Betto é escritor, autor do romance "Minas do Ouro" (Rocco) e assessor de movimentos sociais ]

* * *



por Marcelo Barros



Sete de setembro na América Latina

 

 

 

 

 

 

Enquanto neste 07 de setembro, o Brasil comemora o dia da pátria, as comunidades cristãs latino-americanas recordam que, nesta mesma data, em 1968, encerrou-se, em Medellín, na Colômbia, a 2ª Conferência geral do episcopado católico latino-americano. Foi esta reunião que oficializou o compromisso social e político da Igreja Católica com a completa independência e libertação de nossos povos. A partir da conferência de Medellín, pastores e teólogos, inclusive os papas têm se referido à opção pelos pobres como uma decisão evangélica que é da própria natureza da Igreja ser. No discurso inaugural da Conferência dos bispos em Aparecida, Bento XVI afirmou: "A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristã naquele Deus que se fez pobre por nós". João Paulo II também falou da opção pelos pobres em suas encíclicas sociais. A razão de ser de uma comunidade cristã é ser testemunha do reino de Deus no mundo. Concretamente, isso significa servir à humanidade continuando a missão de Jesus que na sinagoga de Nazaré disse ter vindo ao mundo para curar as pessoas doentes e libertar as oprimidas (Lc 4, 16- 21).
Há 50 anos, o Concílio Vaticano II reuniu todos os bispos católicos em Roma e definiu a Igreja como sinal e sacramento da salvação que Deus quer dar ao mundo inteiro e atinge o ser humano em sua integridade. Em 1968, a conferência de Medellín aplicou o Concílio à América Latina e, pela própria realidade do nosso continente, decidiu aprofundar este assunto. O saudoso padre José Comblin afirmava: "Medellín representou o nascimento de uma Igreja propriamente latino-americana, com rosto de nossos povos". O tema geral da conferência foi a missão da Igreja na transformação da América Latina. Em 1968, eclodiam manifestações da juventude em países da Europa e movimentos revolucionários desejavam mudar nosso continente. Era uma época de transformações sociais e políticas que encontravam resistências e repressões por parte do império norte-americano. Este financiava e apoiava ditaduras militares que, pouco a pouco, se instalavam em nossos países e reprimiam toda tentativa de libertação do povo. Neste contexto, o fato dos bispos terem assumido uma postura crítica com relação às estruturas políticas do continente foi muito importante. O próprio papa Paulo VI que inaugurou aquele encontro deixou claro: "o desenvolvimento é o novo nome da paz".E ele insistiu que este desenvolvimento só merece este nome se for baseado na justiça e na solidariedade humana. Os bispos denunciaram a realidade social e política da maioria de nossos países como "injustiça estrutural" e tiveram coragem de propor que a Igreja se colocasse no mundo como sinal e instrumento de libertação integral da humanidade e de cada ser humano.
É claro que na conferência de Medellín, os bispos puderam aprofundar teologicamente e propor pastoralmente este jeito novo de ser da Igreja, porque isso já era uma experiência concreta nas comunidades eclesiais de base. Desde o começo dos anos 60, muitas comunidades e grupos cristãos, nas periferias urbanas e no campo, começaram a estudar a Bíblia e a ligar a Palavra de Deus à sua vida concreta. Em consequência disso, muitos cristãos, jovens e menos jovens, em nome da fé, participaram de movimentos e lutas pela justiça, inclusive muitos arriscaram a vida neste caminho.
Neste ano, festejamos o Sete de Setembro, com a consciência de que a verdadeira independência social, política e econômica de um país é um processo que precisa sempre ser completado e aperfeiçoado até o dia em que todos os cidadãos tenham o necessário para viver, contem com um trabalho digno e remunerado de forma justa e possam usufruir um merecido lazer na beleza da terra que Deus lhes deu.
Hoje, 43 anos depois, as palavras dos bispos latino-americanos em Medellín devem ressoar em nossas Igrejas para nos recordar que é nossa missão cristã participar desta construção de uma pátria verdadeiramente libertada e independente. Junto com todos os irmãos e irmãs da humanidade, devemos lutar pacificamente para que se realize no mundo o projeto divino de paz, justiça e defesa da natureza. Hoje, está mais do que nunca atual a proposta dos bispos latino-americanos de 1968: "Devemos dar à nossa Igreja o rosto de uma Igreja verdadeiramente missionária e pascal. Seja ela uma Igreja pobre e despojada do poder, comprometida com a libertação de toda a humanidade e de cada ser humano por inteiro" (Medellín, doc 5, n. 15).

[ Marcelo Barros é monge beneditino e escritor ]

Grito de um Excluído

por Salvador do Caculé em: www.gritodosexcluidos.org

Há mais de 500 anos
que essa terra foi tomada
de sua legitima gente
por quem já era habitada
dizendo tê-la descoberto
Cabral aqui se apossou
e um povo que cá vivia
ele quase exterminou,
então começou o processo
e daí em diante se seguiu
e esse tal de progresso
quase que ao índio extinguiu
hoje, depois de 500 anos
tenho um embrólio na mão
uma dívida me foi repassada
sem que tenha visto um tostão,
gastaram por minha conta
antes mesmo de eu nascer
agora, os que estão lá na ponta
não me deixam nem comer,
tudo o que o país produz
vai para os juros pagar
não se investe no social
pois o orçamento não dá
sai governo e entra governo
pode ser PFL, PSDB ou PT
é tanto "P" que lhe digo
que eu já estou é muito "P".
Eu exijo que o meu grito
Por alguém seja ouvido
Ele não é um grito de guerra
É o grito de um excluído.

 
O POVO DA AMAZÔNIA TAMBÉM GRITA!
 
- E NÓS, NÃO TEMOS NADA COM ISSO?
 
UMA IMPORTANTE NOTA DA CNBB, SOBRE A REALIDADE NA AMAZÔNIA - PARA CONHECIMENTO DE TODOS
 
 
 "Salva o teu povo, abençoa a tua herança!"
(Sl 27, 9)

Há grupos e pessoas que costumam gritar "a Amazônia é nossa", não para defender a incontestável soberania do Brasil sobre esta macroregião, mas para explorar até a exaustão as riquezas naturais e transformar a terra, as águas e as florestas em mercadoria, objetos de negócio. A família humana perde o direito de viver no lar que Deus criou. É expulsa da terra herdada dos antepassados.

Na região do Xingu, o projeto Belo Monte coloca em risco a vida de milhares de pessoas. Em 1º de junho de 2011, o IBAMA concedeu à empresa Norte Energia S.A. a Licença de Instalação (LI) para construção desta hidrelétrica e declarou que "concluída a análise técnica e elaborado o relatório, todas as quarenta condicionantes estão cumpridas".

Essa afirmação é uma afronta aos povos do Xingu, pois simplesmente não corresponde à verdade. As prometidas ações antecipatórias de saneamento básico em Altamira e Vitória do Xingu não foram realizadas. Providências de infra-estrutura absolutamente necessárias no campo da saúde, educação, habitação e segurança pública não foram tomadas. Trinta mil pessoas vivem o pesadelo de serem arrancadas de suas casas sem saberem para onde ir. Enormes áreas e plantações são desapropriadas em troca de indenizações irrisórias. Quem resiste é processado judicialmente. Anuncia-se pelos meios de comunicação que a barragem não afetará os indígenas, porque nenhuma aldeia será inundada. Acontecerá o contrário: aos povos da Volta Grande do Xingu será cortada a água.

Em Altamira, os aluguéis chegam a preços exorbitantes, provocando invasões de áreas urbanas e acampamentos em frente à Prefeitura. É o caos que se instala. A segurança pública é incapaz de debelar a crescente onda de violência. Os acidentes de trânsito se multiplicam de maneira assustadora. Os hospitais estão superlotados. As escolas nem de longe conseguem atender à nova demanda de vagas.

O Governo Federal nega o diálogo, oculta informações, aposta na política do "fato consumado" e passa, qual rolo compressor, por cima da população.

Manifestamos nossa solidariedade com os povos do Xingu e denunciamos a falta de sensibilidade das autoridades governamentais que não se deixam comover pelo grito de milhares de pessoas angustiadas.

Ainda nutrimos a esperança de que o bom senso vença a insanidade de um projeto tão pernicioso para a população e o meio-ambiente e suplicamos ao bom Deus: "Salva o teu povo, abençoa a tua herança!" (Sl 27, 9). Que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, interceda pelos irmãos e irmãs do Xingu!

Belém, 2 de setembro de 2011

D. Jesus Maria Cizaurre Berdonces
              Presidente
                                              
D. Frei Bernardo Johannes Bahlmann
Vice Presidente

D. Flávio Giovenale
Secretário

 
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"Senhor Deus misericordioso, tu és a paz, a concórdia, a pureza, a bondade. Tu és o Pai e Senhor de todos os que alimentam pensamentos de paz. Dá-nos humildade, esperança e firmeza na fé. Dá que lidemos uns com os outros em amor, já que o amor é o cumprimento da lei, assim que sejamos filhos da paz e da concórdia, dignos das bem-aventuranças de teu filho, que sejamos sal da terra e luz do mundo".
(Cirilo de Jerusalém, 315-386)
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Conferência Nacional Dos Bispos do Brasil
CNBB – Regional Norte 2


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