terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem será a próxima vítima? - UM CHAMADO À SOLIDARIEDADE

Manifestações–Depoimentos–Protestos de Indígenas e Quilombolas (Brasileiros)

Os camponeses quilombolas, assentados, acampados às margens das estradas, quebradeiras de coco e povos indígenas estão acampados para denunciar a política de extermínio praticada pelo estado brasileiro que se omite em cumprir preceitos constitucionais.

O Maranhão concentra 10% das pessoas que estão abaixo da LINHA DA MISÉRIA, ou seja, que vivem com menos de R$ 70, 00 por mês, de todo o país. Isso mesmo vivem com R$ 2,33 (DOIS REAIS E TRINTA E TRÊS CENTAVOS) por dia. Segundo o último Censo, 1,7 milhão de maranhenses estão submetidos a essa situação, o que representa 25% dos 6,5 milhões de maranhenses.

Fonte: CPT-MA

Endereço do Acampamento:

Superintendência do INCRA - MA

Av. Santos Dumont,  Anil

São Luis – MA

 


Foto de G. Ferreira

Lavradores sem terra, quilombolas e índios seguem acampados no INCRA do Maranhão

 

A sede do INCRA no Maranhão seguirá, por tempo indeterminado, ocupada por lavradores sem terra, quilombolas e índios. Desde o dia 25/08 (quinta-feira), o acampamento que estava na Praça Pedro II, se mudou com mochilas e colchonetes para a sede do órgão. Junto com o acampamento estão faixas com críticas aos governos Roseana e Dilma Roussef. A decisão de ficar foi tomada na tarde de ontem (sexta/26/08), por uma plenária que reuniu algo em torno de 300 acampados.

 Nos dois primeiros dias de ocupação do INCRA eles se reuniram com o atual superintendente do órgão, José Inácio, um burocrata que representa os interesses da oligarquia latifundiária, recentemente nomeado para o cargo. A conversa se deu na base da pressão e nela não foi dito nada de concreto aos acampados. Entre os que ocuparam o INCRA, ninguém está ali para ouvir embromação, ser cooptado pelo governo ou aparecer como personagem de propagandas enganosa.

 Os acampados denunciam todo o fracasso da política de reforma agrária do governo federal e estadual, onde se inclui problemas relativos à titulação de terras, educação, saúde e moradia. Entre questões levantadas pelo atual movimento está novamente a segurança de dezenas de liderança rurais ameaçadas. Segundo Elias Araújo, do MST, “o grande problema é que o policiamento é ruim e o governo do Estado pior ainda”. Segundo ele “até agora nada foi feito”.

 Na sexta-feira (26/08), enquanto seguiu a pressão via acampamento, um dos advogados ligado a Comissão de Direitos Humanos da OAB acompanhou Catarino dos Santos, o Santinho, para prestar depoimento na Corregedoria Adjunta da polícia militar e na secretária de segurança do Estado. A ameaça contra ele foi feita por um Policial Militar e aconteceu no dia 16 de julho. Segundo Santinho, “as ameaças continuam, as pessoas têm medo de andar comigo, até os mototaxistas não querem fazer corrida comigo com medo de serem mortos também”.

 A partir de segunda-feira vai ser retomada a pressão em cima do comando do INCRA, que tem como principal “argumento” sua limitação orçamentária. A pressão também se estenderá ao governo Roseana, responsável por uma parte significativa dos problemas.

 Um dos grandes avanços deste atual acampamento é a realização de um movimento camponês reunindo índios, quilombolas e lavradores sem terra, articulados por organizações como MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento de Quilombolas da Baixada (MOQUIBOM) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), alem do apoio da CONLUTAS, da União por Moradia Popular, de organizações estudantis, de professores universitários e do jornal Vias de Fato.


Foto de G. Ferreira

Agora, os quilombolas – fortalecidos com a presença de líderes indígenas e dos sem-terra –, afirmam que o acordo não foi cumprido. Foi prometido aos quilombolas, entre outras providências, dar mais agilidade nos processos de regularização de terras e combate à violência no campo.
De acordo com o padre Inaldo Serejo, coordenador estadual da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), uma comissão de lavradores se reuniu, na tarde de quinta-feira, na sede do Incra, com representantes do governo estadual e do próprio instituto.
Na reunião, teria sido informado aos quilombolas que não há condições para o cumprimento do acordo por falta de verbas. “Ao cobrarmos do superintendente do Incra no Maranhão, José Inácio Rodrigues Sodré, sobre a celeridade na conclusão dos processos, visitas técnicas e emissão de relatórios, ele foi taxativo em dizer que não há condições de cumprir o acordo porque infelizmente o órgão não tem orçamento para isso”, relatou.
A líder quilombola Maria Teresa Bitencourt, de 49 anos, do povoado Cruzeiro, em Palmeirândia, declarou que os representantes do governo do estado afirmaram que a pauta não foi devolvida depois que foi levada a Brasília pelas ministras e que não teria sido repassada verba federal para dar cumprimento ao acordo.
Ela ressaltou que o contato com as autoridades federais também foi cortado, e por isso fica difícil detectar de onde está partindo a omissão.
Representantes indígenas doas etnias Krikati, Guajajara e Krenyê também aderiram ao movimento. A índia Dária Krikati, de 36 anos, explicou que a população indígena também sofre com a precariedade nas áreas da saúde e educação, além das disputas de terras provocadas pela interferência dos não-indígenas.
Fontes: Notícias do sítio: http://www.viadefato.jor.br/ e Jornal Pequeno – on line (29/08/2011): http://www.jornalpequeno.com.br/

 

Um outro Relato indígena (em forma de denúncia):


Foto e autoria do texto: Ronildo Jorge - Terena


“Acadêmicos indígenas, a próxima vítima!”

Fonte – BLOG: http://ronildoterena.blogspot.com

Lembro como se fosse hoje, o dia em que conheci Ludesvoni Pires, cabelos lisos, longos, olhar firme e um belo sorriso no rosto, uma mulher trabalhadora. Tive a oportunidade de aprender com ela a arte da cerâmica Terena, desde a escolha do barro, preparação, moldagem e queima, isto não é fácil, exige trabalho com as mãos e força nos braços, ela me ensinou cada segredo, cada detalhe in loco, se não fosse ela, eu como Terena autóctone não saberia parte essencial que é do meu próprio ethos, da minha própria natureza, se hoje sei produzir cerâmica agradeço a ela e reconheço todos aqueles que fazem desta arte um modo de sobre VIVER e divulgar a arte Terena.

Esqueço-me, as vezes, de como a sociedade sul-matogrossense tem repugnância contra os povos indígenas, o racismo pregado pela elite é tão violento que armam ciladas, matam lideranças (Marçal de Sousa) assassinam professores indígenas (Rolindo Verá e Genivaldo Verá) e como se não bastasse, atiram bomba caseira em ônibus de estudantes e acadêmicos indígenas, buscam apoderar-se através da carnificina do último pó de terra, da última alma do último índio, sua avidez e sede é tanta que não cessam enquanto não vêem sangue de índio respingando no chão, desde o início da colonização promovem a matança indígena em massa, portanto, carregam no corpo e na alma um ESPÍRITO ASSASSINO! MALDITO! NEFASTO! o status quo que se encontra a nossa sociedade é um caos, deprimente, o Estado assiste calado e de braços cruzados, se quem cala consente deixo explicito aqui: EU NÃO CALO, NÃO CONSINTO, EU FALO, EU ESCREVO, EU REPUDIO toda e qualquer forma de violência contra o ser humano, independentemente das circunstâncias.

Estudantes e acadêmicos indígenas foram e serão a próxima vítima, isto é fato, o próximo alvo de sujeitos truculentos, estúpidos! desprovidos de ética e moral, munidos de racismo e armas, encravam o ódio contra indígenas em Mato Grosso do Sul (Terra de ninguém), usam da barbárie beirando a loucura para alcançar seus interesses (Modus operandi), aos acadêmicos indígenas como nova camada emergentes na sociedade deixo o alerta, tomem cuidado! abra o olho! melhor, abram os olhos e ouvidos, caso contrário, pessoas inocentes como Ludesvoni Pires, que perdeu a vida num ônibus escolar, faleceram, ela deixa para trás quatro filhos e uma vida inteira, compartilho aqui minha dor e revolta, que se instalou na aldeia Cachoeirinha (Miranda-MS), no meio do Pantanal, no âmago do meu pranto profundo pela sua morte.

Ronildo Jorge

(Acadêmico indígena de História/UFGD)





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Todos às ruas contra Belo Monte!

Conferir também as postagens: http://rjoliveira.blogspot.com/2011/06/carta-de-cacique-xavante-sobre-usina-de_11.html e http://rjoliveira.blogspot.com/2011/07/belo-monte-desobediencia-civil.html

No dia 20 de agosto, sábado, o Brasil vai às ruas para protestar contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

O projeto Belo Monte é um exemplo cabal de ineficiência energética (produzirá, em média, apenas 39% da eletricidade que promete), é absurdamente caro (cerca de R$ 30 bilhões, dos quais 80% são dinheiro do povo, a ser desembolsado pelo BNDES), e foi imposto pelo governo através de um processo brutal de sucessivas violações da legislação e da Constituição nacionais, e de acordos e tratados internacionais.

Acima de tudo, porém, o projeto de Belo Monte vai arrebentar com a vida dos povos, da fauna e da flora do Xingu, destruindo e secando parte de um dos mais belos e ricos rios do mundo, e transformando a região em terra arrasada. Não é à toa que Altamira foi campeã de desmatamento nesse primeiro semestre.

As máquinas já estão escavando o solo nas cercanias das barrancas do Xingu, mas não é tarde para silenciar seus motores! Unido, o povo brasileiro dirá ao governo o que pensa de Belo Monte!

Até agora, temos noticias de que Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Recife, Brasília, João Pessoa, Porto Velho, Belém e Santarém protestarão contra a usina. Outras cidades devem se juntar a essa corrente até o dia 20.

Mundo afora, manifestantes demonstrarão sua solidariedade com os povos do Xingu no dia 22, em frente a embaixadas e consulados brasileiros. Até o momento, ha confirmação de protestos na Austrália, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Iran, Holanda, Portugal, Escócia, Taiwan, Turquia, Estados Unidos, México e País de Gales.

SOLICITAMOS A TODOS QUE TENHAM INFORMAÇÕES ADICIONAIS SOBRE CIDADES, PAÍSES, LOCAIS E HORÁRIOS DE PROTESTOS E CONCENTRAÇÕES, QUE ENVIEM PARA O E-MAIL

SOLICITAMOS A TODOS QUE FIZEREM FOTOS, VIDEOS E DEMAIS REGISTRO DAS MANIFESTAÇÕE, QUE ENVIEM PARA OS CONTATOS
campanhaxingu@gmail.com, Xingu Vivo no Facebook e @xinguvivo.

Abaixo, as informações disponíveis até o momento:

20 de agosto (sábado)
Belém (PA) = Praça da República, em frente ao Teatro da Paz rumo ao Ver o Peso - às 8h30

Brasília (DF) = em frente ao congresso nacional - às 14h

Fortaleza (CE)Praça José de Alencar - às 13h

João Pessoa (PB) = Feirinha de Tambaú - às 14h

Recife (PE) = Praça do Derby - às 14h

Rio de Janeiro (RJ) = Posto 4, na Av. Atlântica em Copacabana - às 14h

Salvador (BA) = Praça Campo Grande, até a Praça Municipal - às 14h

Santarém (PA) = Praça da Matriz, com caminhada pela orla da cidade até o ‘Mascotinho’ - às 18h

São Paulo (SP) = Av. Paulista, em frente ao MASP - às 13h


 
campanhaxingu@gmail.com.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Até quando?


Massacre da juventude
por Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

Tá lá o corpo estendido no chão, em vez de rosto, uma foto de um gol;
Em vez de reza, uma praga de alguém, e um silêncio servindo de amém”.
O bar mais perto depressa lotou, malandro junto com trabalhador;
Um homem subiu na mesa do bar e fez um discurso para vereador.
Veio um camelô vender anel, cordão, perfume barato,
E a baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato.
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira,
E a moçada resolveu parar e então... tá lá o corpo estendido no chão.
Sem pressa foi cada um pro seu lado, pensando numa mulher ou num time;
Olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime”.
(João Bosco, De frente pro crime)
 
A canção de João Bosco sugere uma leitura, ao mesmo tempo, polifônica e polissêmica da violência no universo urbano. Polifônica, na medida em que estão em jogo linguagens sobrepostas, tais como ao do malandro mesclada com a do trabalhador, a do candidato a vereador, a do camelô, a da baiana do pastel, a da moçada, como também a dos curiosos que vão se juntado no bar e na rua. Polissêmica, porque os símbolos expressam significados e enfoques diversos, de acordo com o olhar de cada protagonista: o comerciante, o político, o observador à janela, a multidão de transeuntes. O silêncio, por exemplo, nos remete tanto ao “amém” coletivo da oração quanto à indiferença individual de quem se dispersa “pensando numa mulher ou num time” ou de quem “fecha a janela de frente pro crime”.
Corpos estendidos no chão, círculo de curiosos e de policiais, sirenes de ambulância, comentários diversificados e contraditórios, holofotes e câmeras, repórteres e microfones, familiares em cabisbaixos, mães em desespero, peritos da criminologia... Tudo isso forma um cenário bem conhecido não apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, mas também, atualmente, de todas as capitais brasileiras e de não poucas cidades médias e até pequenas. Isso para nos limitarmos ao mundo urbano, pois a zona rural brasileira não é menos pródiga em cadáveres expostos, resultado dos conflitos pela posse da terra.
Mas as estatísticas costumam ter uma visão mais aguçada do que o olhar nu. Ou seja, ao somar, multiplicar e comparar, os estudiosos tiram conclusões que o olho humano não é capaz de enxergar. Uma dessas conclusões, talvez a mais imediata, é que grande parte dos corpos estendidos pelo chão pertencem a pessoas entre os 15 e 25 anos, ou seja, são adolescentes e jovens. Acrescente-se a isso o fato de boa quantidade deles ter sido executada pelos próprios comparsas nas disputas pelo mercado clandestino do narcotráfico ou, mais grave ainda, por grupos para-militares constituídos para esse fim. E não podemos esquecer que uma porcentagem nada desprezível jamais havia passado pela policia, ou se envolvido contato com o crime e a droga. Que o digam as centenas de mães, pais, irmãos e famílias, órfãs de seus filhos, muitos dos quais trabalhadores assíduos e sem ficha criminal.
Quanto aos que são assassinados no confronto direto com as forças policiais, ou por estas eliminados antes de chegar à delegacia, uma série de perguntas se levantam. Por que são tão facilmente aliciados para a violência, o narcotráfico, o crime e o consumo de drogas? Boa parte estaria na escola, se as famílias de onde se originam não vivessem em condições tão precárias. Outros, concluídos os estudos e devidamente capacitados, poderiam já estar empregados, não fossem as empresas tão rígidas quanto à necessidade de experiência prévia. De uma forma ou de outra, um fundo de exclusão social explica os males da superfície.
Há, entretanto, uma pergunta mais inquietante: por que tantos jovens de classe média ou média baixa, com todas as condições de se capacitarem, formam gangues com o objetivo puro e simples da violência? Não são raros os casos de grupos racistas, fundamentalistas ou neofacistas perpetrarem uma série de agressões ao povo da rua, aos travestis e às mulheres prostituídas, como também às minorias étnicas em geral. Inclui-se aqui, por exemplo, os ataques a nordestinos, imigrantes,  negros e indígenas. Os grupos extremistas e extremamente violentos de funk e skinheads semeiam o medo e às vezes a morte para aqueles que se aventuram pela vida noturna das cidades.
De onde vem semelhante comportamento agressivo? A verdade é que a sociedade moderna ou pós-moderna retirou da família o direito e o dever de impor limites às crianças, adolescentes e jovens. Instituições como a escola, as igrejas, os diversos tipos de esporte, as associações e movimentos sociais não conseguem tomar a si essa tarefa. Sobra para a polícia impor limites, mas aí já é tarde demais! No fundo, o conceito de liberdade se reduz a fazer o que se quer, não o que constrói. Some-se agora, de um lado, a vulnerabilidade de grande parte da população, o desemprego e subemprego, a dificuldade de estabelecer limites no processo formativo e, de outro lado, a facilidade de acesso às armas e drogas, os apelos e a permissividade solta, resulta o fácil aliciamento para o crime organizado. Numa palavra, por que estudar e trabalhar se há vias mais curtas para a riqueza e o sucesso? Por que seguir pela estrada legítima se os atalhos encurtam caminho? Para usar uma expressão cara a Galimberti, o “futuro-promessa” tornou-se “futuro-ameaça” (GALIMBERTI, Umberto, in L’ospite inquietante, Il nichilismo e i giovani, Ed. Feltrinelli, Roma, 2007).
Os analistas sociais, porém, não param por aí. Confirmam com suas estatísticas aquilo que nós intuímos no dia-a-dia. Uma porcentagem maior de negros faz parte do número de “corpos estendidos no chão”. Estigmatizados desde os tempos da escravidão, seguem sendo as principais vítimas do extermínio diário. Razões não faltam para isso. Originários de famílias historicamente mais vulneráveis, exibem imensas dificuldades de acesso à escola, em particular aos estudos superiores. Tendo uma qualificação profissional relativamente inferior, encontram maiores dificuldades de empregos bem remunerados, o que agrava ainda mais a situação precária da família. E assim se fecha o círculo vicioso.
Convém sublinhar que, nesse fator de exclusão, pesa igualmente o racismo implícito ou explicito da sociedade brasileira. O texto da Lei Áurea, assinado pela Princesa Isabel a 13 de maio de 1888 – abolição da escravatura – deixava à população negra um legado de liberdade mesclada com miséria e falta de reais oportunidades. Mais do que os negros, foram os senhores escravagistas que se livraram de uma mão-de-obra custosa para adotar a compra e venda do trabalho assalariado, característica da economia capitalista (MARTINS, Jose de Souza, in O Cativeiro da Terra). Fechados os caminhos largos do trabalho e do emprego decente, sobra em geral para os afro-brasileiros os serviços mais pesados e perigosos, mais sujos e mal remunerados. Igual sina sofrem, aliás, os imigrantes em situação irregular.
A canção de João Bosco traz à tona, ainda, a solidão e o anonimato da cidade. O corpo estendido no chão parece desfigurado, não tem rosto, não é identificado. Há uma única alusão à “foto de um gol”, como se ali estivessem seus laços mais sagrados. Não há familiares para chorar e rezar sua partida tão repentina. Provavelmente será transladado para o Instituto Médico Legal (IML) e, em seguida, enterrado como indigente. Sobre o corpo, em lugar de mármore, flores e um respeitoso “aqui jaz”, apenas um monte de terra com uma cruz e um número. Nem sequer um nome, tão somente um número na imensidão do mar urbano!
Conclui-se que questões de classe e de racismo se fundem para a eliminação precoce dos pobres e dos negros. Simultaneamente dentro e fora do cenário, os curiosos, os transeuntes, os malandros e trabalhadores do bar e o observador solitário – se afastam “cada um pro seu lado”, já com o pensamento fixo “numa mulher ou num time”; ou então fechando “a janela de frente pro crime”. O massacre contínuo da juventude, aos milhares e milhões por ano, cai numa indiferença generalizada. A mídia, qual bando de abutres, se debruça sobre cada vítima; a polícia, imune e impune, se utiliza da farda para atirar antes de pedir os documentos; os noticiários sensacionalistas expõem letras garrafais ou corpos crivados de bala. Espetacularizar alguns casos e o mesmo que legitimar a violência diária. Com efeito, os espetáculos exibem os extremos para cristalizar e naturalizar o cotidiano.
Enquanto isso, a multidão segue solitária e com pressa, formando rios humanos que desembocam nos terminais de ônibus, estações de metrô ou nas lojas, que fascinam e seduzem com seus artigos novos e reluzentes. Um transeunte transtornado solta gritos e lágrimas; um bêbado anônimo substitui a oração por uma praga; um terceiro se dá conta que isso é coisa diária... “Tá lá o corpo estendido no chão”.

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Para aprofundar o tema, sugiro o seguinte artigo (de Capa) da Revista Carta Capital:



Para abrir, ler melhor, clique sobre as imagens e tecle para aumentar no tamanho original.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Concentração 13 DE AGOSTO em Campo Grande

  
 
Ato em defesa dos povos indígenas
 
 
Ficou marcado para o dia 13 de agosto às 9h, esquina da rua Barão do Rio Branco com a rua 14 de Julho. Centro. Campo Grande/MS, o ato em defesa dos povos indígenas do MS, atividade que vem sendo organizada pelos movimentos sociais, e que se realizará na área do centro da cidade.  
A articulação e convocatória das organizações populares pretendem reunir pessoas, movimentos e entidades que “indignados, envergonhados, sentem que a humilhação imposta aos povos indígenas do Estado os atinge”, segundo os organizadores. Foi especificada que se trata de uma atividade organizada por “não indígenas” a favor e em solidariedade com os povos indígenas do MS. A idéia do ato não é só reagir contra a violência praticada sistematicamente contra os povos indígenas. É também para chamar a atenção da sociedade sul-mato-grossense que tal violência já não pode ser aceito e que há setores não indígenas que se sentem atingidos igualmente em sua dignidade de pessoas de bem que não aceitam nem vão se acostumar a testemunhar passivamente os ataques sistemáticos praticados contra “nossos iguais, irmãos e parentes”.
 
Atentado a ônibus escolar
 
Um dos mais recentes atos de violência que teve muita repercussão nacional e internacional foi o ataque que sofreu um ônibus escolar lotado de estudantes indígenas na região de Miranda/MS, 203 quilômetros de Campo Grande, em 3 de junho deste ano. O ataque que aconteceu com o uso de uma bomba caseira feriu gravemente a cinco estudantes e ao condutor do veiculo. Naquela ocasião a mídia lembrou a “briga judicial” entre indígenas do povo Terena e fazendeiros na região de Miranda apontando o seguinte:

“Três anos atrás o Ministério da Justiça baixou uma portaria determinando que uma área de perto de dois mil hectares fosse transformada em aldeia indígena, contudo, por meio de liminar, a decisão foi suspensa no ano passado pelo STF (Supremo Tribunal de Justiça). Em março deste ano, os índios invadiram duas fazendas em Miranda, uma delas a fazenda Petrópolis, do ex-governador de MS, Pedro Pedrossian. A Justiça mandou a polícia afastar os índios de lá” (midiamax).

Para os indígenas não há duvidas de que essas terras pertencem ao povo Terena, sendo que uma parte já foi demarcada a favor dos indígenas, mas entraves jurídicos e administrativos não permitem a efetiva entrada dos nativos em suas terras tradicionais. Antes do ataque perpetrado contra os escolares muitas lideranças indígenas já vinham denunciando diferentes tipos de ameaças e algumas encaminhadas ao Ministério Publico Federal.
 
Violência ainda maior é praticada sistematicamente contra o povo Kaiowa-Guarani no MS. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, Mato Grosso do Sul concentra a segunda maior população indígena do país e possui os piores índices de terras demarcadas e os maiores índices de violações de direitos humanos.  MS tem sido por muitos anos ‘recordista’ de violência contra os povos indígenas do Brasil e as causas dessa realidade estão intimamente ligadas à ocupação de suas terras tradicionais pelo agronegócio e o latifúndio, segundo os organizadores do ato a realizar-se em Campo Grande.
 
  
Fonte: Comunicação CPT/MS

Pessoas desaparecidas