MAIS UM CAPÍTULO DE MUITA DOR NA HISTÓRIA DE CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO – GUARDEM NOS OLHOS!!!
Delzinho é encontrado morto na Mumbuca!!! Assassinado em Conceição do Mato Dentro.
Saí do telefone, com a voz da Flávia: Delzinho foi encontrado morto na Mumbuca. Além dele, a irmã de dona Aparecida. Em estado de choque, fui tentar acalmar meu coração e não consegui conter as lágrimas...
Me lembrei daquele homem bom, simples, que sempre me recebia com a gentileza que lhe era peculiar. A casa dele era sempre o lugar de reunião da comunidade da Mumbuca. Junto com os vizinhos e Júnior eles construíram o barracão, onde aconteceu o MUMBUCA AFRO FESTIVAL.
Delzinho era quem conversava depois da reunião, tomando um guaraná... Comendo um queijinho feito por ele mesmo... na venda do outro lado da casa dele.
Ele foi um dos primeiros a se indignar contra a mineração da MMX Anglo Ferrous Brasil:
“Eles cortam candeias e enterram nas grotas e depois quando a Florestal chega, se chega, ta tudo escondido e ninguém vê, mas eu sei onde fica e como que eles fazem. Eles é muito covarde!!!”.
“Ce vê, esse lugar aqui é onde a gente foi criado, eu vivo aqui desde que nasci. Era dos nossos ancestrais , nós já tamos aqui a mais de trezentos anos, ce vê era dos pais dos meus avós, dos meus avós, dos meus pais, agora a gente vai sair daqui , vai pra onde? Vamos acabar morando aí debaixo de algum viaduto, ou então nalguma favela...” “Eu num quero saí daqui não , esse aqui é meu lugar, nós tamos aqui há muito tempo, agora vem esse povo e quer tirá a gente daqui igual bicho...”
“Olha aqui Dorinha, num tem mais pasto não, a terra que desceu lá do morro assorou tudo, num tem nem jeito de passar na estrada, tá barro puro, olha aí o corrego, a gente num tem mais jeito de ficar nessa confusão. O moinho que a gente usava prá moer milho, ali embaixo, também tá assorado. A Francisca coitada, a casa tá cercada de poliça armada da empresa, num passa ninguém pra dentro...Depois da detonação , a casa dela já tá cheia das trinca.”
“Es fizeram um cadastro aí... Olha aqui o papel...” A gente num tem paz mais não... o negócio tá é difícil demais de viver aqui...Tá todo mundo disorientado, é poeira, é água suja, é terra que desceu pra todo lado, é barulho de máquina, é detonação, que a casa e tudo treme, é um lofote a noite inteira, que ninguém dá jeito de dormir. A gente tá é pagando pecado da vida toda, isso aqui ta é um inferno danado!...”
Entre uma prosa e outra ele abria a geladeira e falava , escolhe aí , olha que queijo que ocê quer levar...
Lendo o livro “A GEOGRAFIA DO CRIME-Violência nas Minas Setecentistas - de Carla Maria Junho Anastasia, irmã do atual governador Antônio Augusto Anastásia”, vemos na Pág. 23:
“A autonomização da burocracia, explicitada na ausência / omissão / conflitos / iniqüidade das autoridades, ou seja, geradora de um baixo grau de institucionalização política, impedia a vigência dessas regras de convivência entre atores, generalizando a violência.”
“Quanto maior a autonomia e/ou ausência das autoridades e menor o grau de institucionalização política, maior era a possibilidade da generalização de atos de violência nessas áreas, que serão tratdas como zonas de non-droit,termo mantido em francês pela dificuldade de se traduzir com eficácia a expressão, ou seja, zonas nas quais a arbitrariedade era a regra, em que os direitos costumários e a justiça não eram reconhecidos pelos atores sócias, fossem autoridades, fossem os espaços, por excelência, da exacerbação da violência, não obstante a arbitrariedade pudesse estar presente também nas vilas e arraiais da Capitania apesar de se esperar,nessas localidades, um razoável grau de institucionalização política.Via de regra a arbitrariedade nos núcleos urbanos derivava dos abusos do poder, iniqüidade da ação dos ministros metropolitanos – desrespeito às convenções, direitos e privilégios – e do convívio nem sempre harmônico de seus moradores.
Pág 25:
...“Finalmente, o quarto tema analisado examina o comportamento transgressor e violento de uma autoridade metropolitana, o ouvidor-geral da comarca de Serro Frio, Joaquim Manuel de Seixas Abraches, propiciado pela multiplicação de agentes reais na região, pelos atos constantes de usurpação de jurisdição e pelo predomínio dos interesses privados sobre os públicos via a formação de redes de solidariedade entre as autoridades da comarca, em especial as da Demarcação Diamantina”...
Fica difícil saber, após a prisão do Sr Antônio Pimenta pela milícia privada da empresa MMX-Anglo Ferrous Brasil, escoltado pela polícia militar, após a expulsão da família Pimenta de suas próprias terras, após o sumiço do caminhão da família dos Pimentas, que é instrumento de subsistência dos mesmos, após o segundo AVC do Seu José Rosa, marido de Dª Maria Rodrigues, após o tiro levado pelo Lúcio Pimenta, após discussão em família. Após denuncia no Ibama , Semad, Feam , MPE, MPF, e nada ser feito, com todo o assoreamento da região, contaminação dos cursos d’água , após a falta de água de mais de 120 famílias e tudo ser considerado normal... Após a formação de uma Comissão dos Atingidos, para defender o direitos das comunidades atingidas e a desconstrução articulada da mesma, ao se dizer que não haveria nenhuma deliberação sobre a condicionante 91, que previa o reassentamento das comunidades atingidas , na reunião da URC , e a decisão tomada pelo Copam Jequitinhonha de fragmentar em grupos setoriais, sem deliberação da Comissão dos Atingidos eleita pelo povo...
SERÁ QUE AINDA ESTAMOS EM 1715, NOS PRIMÓRDIOS DA EXPLORAÇÃO DO OURO? SERÁ QUE OS MÉTODOS, AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA AINDA SÃO OS MESMOS?
ONDE ESTÃO AS AUTORIDADES PARA SE FAZEREM CUMPRIR AS LEIS, ONDE ESTÁ O MPE, MPF, DEFENSORIA PÚBLICA, PARA GARANTIR OS DIREITOS DESSE POVO? ONDE ESTÁ A POLÍCIA AMBIENTAL, POLÍCIA MILITAR, DELEGADO, GOVERNO, IBAMA, SEMAD, URC JEQUITINHONHA? SERÁ PRECISO MORRER MAIS ALGUÉM PARA QUE ALGUMA COISA SEJA FEITA?
Deixo aqui meu lamento de dor, de indignação, de completa tristeza...
Talvez Deus tenha dado alívio ao Delzinho de tanto sofrimento... Talvez mesmo morto, sabe-se lá por que? Por quem? Crime passional? Armação? Ele tenha sido libertado.
Porque essa comunidade foi eleita para tanto descaso e opressão?
Penso que é preciso fazer da morte do Delzinho, um motivo para que de fato haja justiça, haja lei, haja respeito aos direitos dessas pessoas... Elas não são joguetes nas mãos de outros, são gente de carne a osso e não estão resistindo a tamanha opressão.
Vejam, relembrem o que tem sido a SINA de Conceição:
http://www.youtube.com/watch?v=kLxQjBsvQdo
DELZINHO, é quem está na capa do vídeo CONCEIÇÃO GUARDE NOS OLHOS I e PARTICIPA DO VÍDEO-DEPOIMENTO DE DELFINO DE SOUZA –DELZINHO : Conceição Guarde nos Olhos II:
http://www.youtube.com/watch?v=oysDR7sf5RU
Conceição Guarde nos Olhos III:
http://www.youtube.com/watch?v=DRCoXLCeovc
QUEM SABE CARLA, VC NÃO PEDE SEU IRMÃO, GOVERNADOR ANTÔNIO AUGUSTO ANASTASIA, PRA DAR UMA OLHADA NESSE CASO?
E AÍ "SEU EIKE"? ANGLO FERROUS BRASIL, COMO É QUE FICA ESSA HISTÓRIA?
SOMOS TODOS “MUMBUCA”!!!
SOMOS TODOS “ÁGUA QUENTE”!!!
SOMOS TODOS “CONCEIÇÃO”!!!
SOMOS POVO, TERRA, CULTURA, NAÇÃO!!!!
SOMOS “DELZINHO”!!!
MESMO MORTO, NOSSO IRMÃO!!!
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Texto fonte: DORINHA ALVARENGA
BH/CMD, 30/05/2010
Dorinha Alvarenga
(55) (31) 3889-0113 / (55) (31) 8794-1300
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